Lyrics

[Verse 1]
Este ritmo binário, que é o alicerce principal de quase todos os ritmos da canção popular do Brasil
Veio importado de longe, das placas ardentes da África
Onde o sol queimou a pele dos homens até carbonizá-la em negro
O compasso, tão simples, que reproduz em tom grave as batidas do próprio coração
Atravessou o Atlântico sob a bandeira dos navios negreiros
Servindo para marcar o andamento de melopeias
Que vinham dos porões em vozes gemidas e magoadas
[Verse 2]
Chegou, chegou o Rei Congo, ê
Chegou, chegou
Chegou, chegou o Rei Congo, ê
Chegou, chegou
[Verse 3]
Quando os negros escravos aqui desembarcavam, em magotes
Vinham com eles, latejando nos peitos magros e sofridos
As batidas selvagens dos atabaques da terra africana
E escravos continuavam chorando suas revoltas mal contidas
[Verse 4]
Chegou, chegou o Rei Congo, ê
Chegou, chegou
Chegou, chegou o Rei Congo, ê
Chegou, chegou
[Verse 5]
Mas o homem é um animal que se habitua
O negro africano escravizado teve seus dias de folga, seus momentos de festa
E também seus amores que começavam no galanteio das danças
Macho e fêmea escravizados, se libertavam no amor
E para festejar essa primavera de emoções
Outros instrumentos de percussão entravam em cena
Iluminando o andamento das cantigas para dança
[Verse 6]
Está batendo o coração soturno do mais grave dos atabaques, o rumpi
Fazendo bordaduras acessórias, juntam-se a ele os tons mais agudos dos atabaques menores
O lé e o rum
O som metálico e suave do fio distendido é do urucungo
Que ornamenta o conjunto, fazendo ritmo sincopado
E vem o adjá, uma espécie de cincerro, ajudando na marcação do tempo fraco
O tempo forte vai ser preenchido por outro som metálico, o do gonguê
O agogô são duas campanas, cujas batidas marcam o passo dos bailados
E vem num grave gemido, que se alonga pelos tempos do compasso
[Verse 7]
A voz da angona-puíta, avó africana de voz grossa da jovem cuíca das escolas de samba
Os últimos detalhes dessa renda de ritmos são realizados pela cabaça de contas, o afoxé
E pelo ganzá, grande chocalho de tubo metálico
Nessa altura, o maestro Abigail Moura mergulha em espírito nos passados das senzalas
E traz no abismo dos tempos, as angústias e alegrias do negro escravo
Que ajudou no trabalho e na cantiga, a libertar esse Brasil de hoje e de sempre
[Verse 8]
Chegou o Rei Congo!
(Chegou o Rei Congo)
(Chegou o Rei Congo)
[Verse 9]
Só no meu terra eu fui rei
Written by: Abigail Moura
instagramSharePathic_arrow_out