Natureza Morta

Em cima da mesa

Está o meu coração

Já não sinto a tristeza

É decoração

Em cima da mesa

Está o meu coração

Já não sinto a tristeza

É decoração

Um móvel, imóvel, só ao pé da porta

Um vulto inútil, natureza morta

Ignóbil objeto, abjeto, descarte

Como um cão de loiça, uma coisa à parte

Em cima da mesa

Está o meu coração

Já não sinto a tristeza

É decoração

Em cima da mesa

Está o meu coração

Já não sinto a tristeza

É decoração

Fizeste-me experimentar a tristeza em todos os lugares, em todas as divisões da casa

Em todas as estâncias de veraneio, a todas as horas do dia

Ela passou a viver connosco, dormindo pelos cantos como um cão

Entranhou-se nos tecidos e com o tempo foi ocupando todo o espaço

Quando deixei de sentir a sua presença, como quem não é capaz de distinguir o próprio cheiro, foste embora

Enxuguei as lágrimas aos lençóis da nossa cama e desde então durmo num barco

Durmo num barco, a mais no meu quarto

A dor sem parto parte-me

Durmo num barco, a mais no meu quarto

E se eu não parto eu perco-me

Durmo num barco, a mais no meu quarto

A dor sem parto parte-me

Durmo num barco, a mais no meu quarto

E se eu não parto eu perco-me

Durmo num barco, a mais no meu quarto

A dor sem parto parte-me

Durmo num barco, a mais no meu quarto

E se eu não parto eu perco-me

Em cima da mesa (Natureza morta)

Está o meu coração (Indolor)

Já não sinto a tristeza (Não importa)

É decoração (Interior)

Em cima da mesa (Natureza morta)

Está o meu coração (Indolor)

Já não sinto a tristeza (Não importa)

É decoração (Interior)

Em cima da mesa (Natureza morta)

Está o meu coração (Indolor)

Já não sinto a tristeza (Não importa)

É decoração (Interior)

Em cima da mesa (Natureza morta)

Está o meu coração (Indolor)

Já não sinto a tristeza (Não importa)

É decoração (Interior)