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Top Songs By Racionais MC's
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PERFORMING ARTISTS
Racionais MC's
Performer
COMPOSITION & LYRICS
Mano Brown
Songwriter
Lyrics
[Verse 1]
Essa porra é um campo minado
Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui?
Mas aí, minha área é tudo o que eu tenho
A minha vida é aqui e eu não preciso sair
É muito fácil fugir mas eu não vou
Não vou trair quem eu fui, quem eu sou
Eu gosto de onde eu tô e de onde eu vim
Ensinamento da favela foi muito bom pra mim
[Verse 2]
Cada lugar um lugar, cada lugar uma lei
Cada lei uma razão, eu sempre respeitei
Qualquer jurisdição, qualquer área
Jardim Santo Eduardo, Grajaú, Missionária
Funchal, Pedreira e tal, Joaniza
Eu tento adivinhar o que você mais precisa
Levantar sua goma ou comprar uns pano
Um advogado pra tirar seu mano
[Verse 3]
No dia da visita, você diz
Que eu vou mandar cigarro pros maluco lá no X
Então, como eu tava dizendo, sangue bom
Isso não é sermão, ouve aí, tenho o dom
Eu sei como é que é, é foda parceiro
É a maldade na cabeça o dia inteiro
Nada de roupa, nada de carro
Sem emprego, não tem ibope, não tem rolê, sem dinheiro
[Verse 4]
Sendo assim, sem chance, sem mulher
Você sabe muito bem o que ela quer, é
Encontre uma de caráter, se você puder
É embaçado ou não é?
Ninguém é mais que ninguém, absolutamente
Aqui, quem fala é mais um sobrevivente
Eu era só um moleque, só pensava em dançar
Cabelo black e tênis All Star
[Verse 5]
Na roda da função, mó zoeira
Tomando vinho seco em volta da fogueira
A noite inteira, só contando história
Sobre o crime, sobre as treta na escola
Não tava nem aí nem levava nada a sério
Admirava os ladrão e os malandro mais velho
Mas se liga, olhe ao seu redor e me diga
O que melhorou? Da função, quem sobrou?
[Verse 6]
Sei lá, muito velório rolou de lá pra cá
Qual a próxima mãe que vai chorar?
Ah! Demorou mas, hoje, eu posso compreender
Que malandragem de verdade é viver
Agradeço a Deus, aos Orixás
Parei no meio do caminho, nem olhei pra trás
Meus outros manos, todos foram longe demais
Cemitério São Luís, aqui jaz
[Verse 7]
Mas que merda, meu oitão tá até a boca
Que vida louca! Por que é que tem que ser assim?
Ontem eu sonhei que um fulano aproximou de mim:
"Agora eu quero ver ladrão! (Pá! Pá! Pá! Pá!)"
O fim é, sonho é sonho, deixa quieto
Sexto sentido é um dom, eu tô esperto
Morrer é um fator mas, conforme for
Tem no bolso, na agulha e mais cinco no tambor
[Verse 8]
Joga o jogo, vamo lá, caiu a oito, eu mato a par
Eu não preciso de muito pra sentir-me capaz
De encontrar a fórmula mágica da paz
[Verse 9]
Eu vou procurar, sei que vou encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé mas eu vou atrás (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
Da minha fórmula mágica da paz
[Verse 10]
Eu vou procurar, sei que vou encontrar (Procure a sua)
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé (Eu vou atrás da minha)
Você não bota uma fé (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
[Verse 11]
Caralho, que calor, que horas são agora?
Dá pra ouvir a pivetada gritando lá fora
Hoje, acordei cedo pra ver
Sentir a brisa de manhã e o sol nascer
É época de pipa, o céu tá cheio
Quinze anos atrás eu tava ali no meio
Lembrei de quando era pequeno, eu e os cara (Faz tempo, faz tempo)
E o tempo não para
[Verse 12]
Hoje tá da hora, o esquema pra sair, é
Vamo, não demora, mano, chega aí!
"Cê viu ontem? Os tiro ouvi um monte!
Então, diz que tem a pá de sangue no campão"
Mas, ih, mano toda mão é sempre a mesma ideia junto
Treta, tiro, sangue, aí muda de assunto
Traz a fita pra ouvir por que eu tô sem
Principalmente aquela lá do Jorge Ben
[Verse 13]
Uma pá de mano preso, chora a solidão
Uma pá de mano solto sem disposição
Empenhorando, por aí, rádio, tênis, calça
Acende num cachimbo, virou fumaça
Não é por nada, não, mas aí nem me liga, ó
A minha liberdade eu curto bem melhor
[Verse 14]
Eu não tô nem aí pra o que os outros fala
Quatro, cinco, seis preto num Opala
Pode vir gambé, paga pau, tô na minha, na moral
Na maior, sem goró, sem pacau, sem pó
Eu tô ligeiro, eu tenho a minha regra
Não sou pedreiro, não fumo pedra
[Verse 15]
Um rolê com os aliados já me faz feliz
Respeito mútuo é a chave, é o que eu sempre quis (Diz!)
Procure a sua, a minha, eu vou atrás
Até mais da fórmula mágica da paz
[Verse 16]
Eu vou procurar, sei que vou encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé mas eu vou atrás (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
Da fórmula mágica da paz
[Verse 17]
Eu vou procurar, sei que vou encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé mas eu vou atrás (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
[Verse 18]
Choro e correria no saguão do hospital
Dia das criança, feriado e luto final
O sangue e agonia entra pelo corredor
Ele tá vivo, pelo amor de Deus, doutor!
Quatro tiros do pescoço pra cima
Puta que pariu, a chance é mínima
Aqui fora, revolta e dor
Lá dentro estado desesperador
[Verse 19]
Eu percebi quem eu sou realmente
Quando eu ouvi o meu subconsciente:
"E aí, Mano Brown, cuzão? Cadê você?
Seu mano tá morrendo, o que você vai fazer?"
Pode crer, eu me senti inútil, eu me senti pequeno
Mais um cuzão vingativo
Puta desespero, não dá pa' acreditar
Que pesadelo, eu quero acordar
[Verse 20]
Não dá, não deu, não daria de jeito nenhum
O Derley era só mais um rapaz comum
Dali a poucos minutos, mais uma dona Maria de luto
Na parede, o sinal da cruz, que porra é essa?
Que mundo é esse? Onde tá Jesus?
Mais uma vez, o emissário
Não incluiu Capão Redondo em seu itinerário
[Verse 21]
Porra, eu tô confuso, preciso pensar
Me dá um tempo pra eu raciocinar
Eu já não sei distinguir quem tá errado, sei lá
Minha ideologia enfraqueceu
Preto, branco, polícia, ladrão, ou eu
Quem é mais filha da puta, eu não sei!
Aí fodeu, fodeu, decepção essas hora
A depressão quer me pegar, vou sair fora
[Verse 22]
Dois de novembro era finados
Eu parei em frente ao São Luís, do outro lado
E, durante uma meia hora, olhei um por um
E o que todas as senhoras tinham em comum
A roupa humilde, a pele escura
O rosto abatido pela vida dura
[Verse 23]
Colocando flores sobre a sepultura (Podia ser a minha mãe, que loucura)
Cada lugar uma lei, eu tô ligado
No extremo sul da Zona Sul tá tudo errado
Aqui vale muito pouco a sua vida
Nossa lei é falha, violenta e suicida
Se diz que, me diz que não se revela
Parágrafo primeiro na lei da favela
[Verse 24]
Legal, assustador é quando se descobre
Que tudo deu em nada e que só morre o pobre
A gente vive se matando irmão, por quê?
Não me olhe assim, eu sou igual a você
Descanse o seu gatilho, descanse o seu gatilho
Entre no trem da malandragem, meu rap é o trilho
[Verse 25]
Vou dizer
Procure a sua paz
[Verse 26]
Pra todas a famílias aí que perderam pessoas importantes, morô meu?
(Eu vou procurar e sei que vou encontrar) Procure a sua paz
Não se acostume com esse cotidiano violento
Que essa não é a sua vida, essa não é a minha vida, morô mano?
[Verse 27]
Aí Derlei, descanse em paz
Aí Carlinhos, procure a sua paz! (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
Aí Quico, cê deixou saudade, morô mano? (Agradeço a Deus e aos Orixás)
Eu tenho muito a agradecer por tudo
Agradeço a Deus e aos Orixás (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
[Verse 28]
Cheguei aos vinte e sete, sou um vencedor, tá ligado, mano?
(Agradeço a Deus e aos Orixás)
Aí, procure a sua, eu vou atrás da minha fórmula mágica da paz!
Você não bota uma fé (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
[Verse 29]
Aí, manda um toque na quebrada lá, Cohab, adventista e pa' rapaziada
Malandragem de verdade é viver, se liga
Procure a sua paz
Você não bota uma fé (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
[Verse 30]
Aqui quem fala é mano Brown, mais um sobrevivente
Agradeço a Deus, agradeço a Deus! (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
Vinte e sete anos, contrariando a estatística, morô?
Agradeço a Deus, agradeço a Deus
[Verse 31]
Procure a sua paz (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
Eu vou procurar, procure a sua
Procure encontrar
Você pode encontrar a sua paz, o seu paraíso (Eu vou procurar)
Cê pode encontrar o seu inferno
A fórmula mágica da paz (Eu vou procurar e sei que vou encontrar)
Eu prefiro a paz
Written by: Pedro Soares Pereira